E Pur Si Muove

O espectáculo a solo por si interpretado e coreografado contém um olhar retrospectivo e simultaneamente propõe um olhar prospectivo, desenhando novas linhas de investigação artística. Para tal, contribuem as residências realizadas em três continentes. Na Europa, contacta com a história e tradições locais da Sardenha, que informam o seu trabalho em curso, na esteira da presença habitual de um imaginário mediterrânico na sua obra. Na América do Sul, observa a relação portuária no seio das cidades de Montevideo e Buenos Aires. No continente africano, percorre as cidades de Durban, Joanesburgo e Cidade do Cabo, alternando entre entre a costa e o interior, observando um ponto obrigatório da odisseia marítima da história portuguesa e os traços da segregação racial na África do Sul.

Ao longo do processo criativo que ocupou mais de um ano na vida do coreógrafo, explorou as alterações físicas decorrentes da viagem. Encontrando-se em diferentes contextos sociais e culturais, em ambientes físicos e atmosféricos distintos, pesquisa e ensaia os elementos coreográficos não só no estúdio mas também no espaço público e na paisagem circundante. Neste plano, será tido em conta, muito particularmente, a presença da água, do mar e do rio, comum à maioria das cidades onde se desenrola o início da criação. O trabalho de pesquisa propriamente coreográfico é acompanhado pela leitura das narrativas clássicas, das epopeias, a que se juntam alguma literatura de viagem e alguns autores locais. Citem-se a título de exemplo: Homero, Luís de Camões, Dante Alighieri, D. H. Lawrence, Jorge Luis Borges, Juan Carlos Onetti ou Gonçalo M. Tavares.